Estou sendo expulsa da roça onde cresci. Primeiro foi meu pai que se foi e com ele a horta, as galinhas com ovos caipira, o sotaque do interior de R no lugar de L. Eu não uso mais a "bassora" para varrer a casa. Minha rua antes cheia de chácaras agora está cheia de casas com terrenos cada vez menores com um povo que não vi crescer. O portão sem cadeado e a rua de terra também se foi e agora os carros passam em velocidade com músicas inaudíveis.
Minha cerquinha de bambu singela e velha também se foi e com ela aquela sensação de que o perigo não existia. Agora eu olho pela janela e vejo um muro cinza, não tem mais minha arvore com flores cor-de-rosa com cheiro de doce, não tem mais minha azaleia que de tão antiga virou árvore, tudo se foi. E eu?! Eu fiquei! E a velha lacuna se abre novamente...
"Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e essa lacuna é tudo". Dom Casmurro - Machado de Assis.
Agora chega!!! Deixa eu caçar o que fazer... Amanhã é dia dos mortos e eu estou bem viva...
Olha que fofo! |
Lindo texto, bjos ótima semana!
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